Farol do Maranhão

Presidente do Sampaio, Sérgio Frota, acerta ao vender mando de campo de jogo contra o Fluminense pela Copa do Brasil

Eu sei que muitos torcedores já estão me xingando, antes de mesmo de terminar a leitura dessa primeira linha. Mas desprovido de paixões e bairrismo, afirmo sem medo de errar: o presidente do Sampaio, Sérgio Frota acerta ao vender por R$1 milhão o mando de campo do jogo contra o Fluminense pela 3ª fase da Copa do Brasil.

Antes de mais nada é preciso entender que futebol no Brasil faz muito tempo que já não se faz na base da paixão. Segundo, São Luís não possui um estádio com condições de receber um grande jogo de futebol.

Vou começar pelo o que é mais evidente: a decadência do estádio Castelão que virou campo de jogo de qualquer competição futebolística no estado. Desde campeonatos locais sub-13 são disputados na praça esportiva mais importante do estado, ou seja, banalizaram o Gigante do Outeiro.

Sou de uma geração que viu Sampaio x Santos fazer tremer o Castelão, que dias seguintes recebeu Brasil x Iugoslávia e foi mais um arrebento de público. Tudo isso no longínquo ano de 1998.

Uma memória mais recente de Castelão lotado foi criada para os anos de 2012 e 2013, quando o estádio foi reinaugurado e o Sampaio venceu a Série D e garantiu o acesso a Série B, respectivamente.

Naqueles anos, vi Sampaio 0 x 0 Mixto com 33.900 pessoas presentes; Sampaio 2 x 0 Crac com 40.100 torcedores; Sampaio 5 x 3 Macaé com 39.622 pagantes.

Em 2014, após 16 anos fora da Série B, o Sampaio ainda botou bons públicos, dentre eles o jogo contra o Vasco, 37.322 torcedores pagaram e geraram uma renda de R$ 1.236.260.

Essa partida de 2014, poderia servir como argumento para apostar no jogo entre Sampaio x Fluminense em São Luís como uma partida de bom resultado econômico.

Mas o atual cenário é completamente diferente. Em São Luís, as pessoas perderam a vontade de ir ao estádio e a desculpa não é falta de jogos de times grandes. Em 2022, empresários trouxeram Botafogo x Vasco, o resultado foram menos de 10 mil torcedores no Castelão e uma renda de 145 mil reais.

Um pai de família hoje pensa mil vezes, antes de levar sua família ao Castelão. Falta fluidez no trânsito, segurança, higiene, conforto e os banheiros são insalubres.

Para piorar, o Castelão volta a apresentar problemas estruturais e o setor 2 com capacidade para receber 7 mil pessoas, está proibido de ter ingressos comercializados.

Partindo de um pressuposto que o Castelão cabem 40 mil pessoas, retirando o setor 2, o público máximo chegaria a 33 mil. Vendendo ao preço médio de R$80, a renda bruta seria R$2,6 milhões, o que deixaria um bom resultado líquido.

Mas essa não é a conta real, nem Sampaio e nem Fluminense contam com um apelo público bom no momento, mesmo que o clube carioca certamente leve mais torcedores ao estádio.

A projeção de Sérgio Frota é de 15 mil torcedores no Castelão. Seguindo o mesmo valor de média de ingresso, R$80, a renda bruta seria R$1,260 milhão, mas tirando os descontos e as inúmeras cortesias a ser concedidas, fatalmente esse valor cairia para faixa de R$500 a R$600 mil líquido.

Um pouco acima da projeção de Sérgio Frota, que prevê uma renda líquida pouco superior a R$200 mil, caso o jogo seja aqui em São Luís.

Mas como nos negócios e o futebol é um, não se pode apostar muito no “se” e ao ter certeza de R$1 milhão “limpo”, sem a necessidade de um desgaste para faturar isso, Sérgio Frota acerta ao vender o mando.

E apesar das críticas e longínquo tempo que Sérgio Frota está na presidência do Sampaio, desde 2008, ele devolveu a alegria e os títulos a Bolívia. No estado, a supremacia é boliviana: 8 títulos estaduais, Série D, Copa do Nordeste, além de oito participações na Série B.

Ainda que muitos critiquem, todos os outros clubes maranhenses sofrem com resultados e situação econômica, a exemplo do Moto que vive a depender de “tapetão” para conquistar vaga na Série D e mais recente na semifinal do Campeonato Maranhense.

O MAC vive um bom momento, mas ainda é muito cedo para afirmar que é um trabalho consolidado.

Pensando nisso, Sérgio Frota sabe que precisa de dinheiro para montar um bom time e voltar a Série B em 2025.

Portanto, o R$1 milhão da venda do jogo entre Sampaio x Fluminense chegará em um bom momento, afinal vale muito mais a volta a Série B do que o sonho de avançar uma fase na Copa do Brasil em um jogo contra o Campeão da América.

Não é pensamento pequeno e nem de submissão, mas de realidade da atual situação do futebol maranhense, uma decisão errada e pode custar o ano de 2024 do Sampaio.

Quanto ao Fluminense, digo que como um clube de apelo nacional, poderia sim fazer excursões pelo Brasil, jogar em vários lugares do país, mas claro que para o clube carioca, o planejamento e o profissionalismo está bem acima, portanto um jogo em Brasília ou em Cariacica é bem melhor para a logística do clube que disputa três competições ao mesmo tempo.

Que o futebol maranhense ganhe uma discussão profunda do que fazer para voltar ser atrativo e o poder público é parte essencial.

A propósito, a título de comparação, Paysandu x Fluminense no ano passado pela Copa do Brasil teve um público de 29.382 pagantes e uma renda líquida de R$ 833.013,05, mas estamos falando de uma cidade que tem duas torcidas apaixonadas e presentes no estádio, e de uma praça esportiva, o Mangueirão recém reformada e já escolhida para a final da Supercopa em 2025.