Farol do Maranhão

“O barato sai caro”, “quem tem boca vai a Roma”: Brasileiros revelam os ditados populares mais falados em todo o país

Eles são simples, diversos e reúnem em expressões curtas grandes conselhos e ensinamentos. Repassados de geração a geração, talvez sejam mais comuns na boca dos pais e avós, o que não quer dizer que não sejam usados pelos mais jovens. Aliás, se você acredita que os ditados populares são coisa do passado, não poderia estar mais enganado: na pesquisa mais recente da Preply, brasileiros de todas as idades não apenas confirmaram que os usam frequentemente, como elegeram os ditados favoritos em cada um dos 27 estados. De Norte a Sul, são dois os queridinhos nacionais: “o barato sai caro” e “a mentira tem perna curta”, presentes no dia a dia de 6 em cada 10 entrevistados.

Isso porque, para compreender quais ditados são os mais utilizados no Brasil, durante o último mês, mil respondentes foram indicados a avaliar dezenas de expressões típicas do nosso senso comum, identificando os provérbios populares que escutam e dizem com frequência nas regiões onde vivem. Os entrevistados ainda tiveram a oportunidade de apontar de quem costumam ouvir tais frases, bem como admitir que ditados sempre falaram errado a vida inteira — sem fazer ideia de que estavam repetindo, na verdade, a forma equivocada das máximas em questão.

Principais conclusões

  • “O barato sai caro” (65,4%) é o ditado popular mais falado no país;

  • Top 3 frases mais usadas ainda conta com “a mentira tem perna curta” (64,3%) e “a esperança é a última que morre” (61%);

  • Pais e mães (67%) são as pessoas que mais reproduzem ditados populares no Brasil;

  • E quem não tem cão, caça como gato? 6 em cada 10 brasileiros dizem “quem não tem cão, caça com gato”;

“O barato sai caro” — e outros ditados que unem os brasileiros

Esteja no Acre ou no Rio Grande do Sul, brasileiro que é brasileiro certamente concordará em um mesmo ponto: quando o assunto são produtos e serviços, nem sempre investir no menor valor se revela a melhor das experiências, sobretudo porque aquisições de qualidade baixa podem acabar resultando em prejuízos a longo prazo devido a certos problemas.

Prova dessa mentalidade compartilhada é o fato de que, em meio aos milhares de ditados populares nas cinco regiões, “o barato sai caro” foi eleito o mais utilizado em todo o Brasil — à frente dos também comuns “quem ri por último, ri melhor” (56,9%) e “a pressa é inimiga da perfeição” (56,9%), por exemplo. A preocupação com as escolhas sábias em vez dos “pensamentos de curto prazo”, nesse sentido, pode até mesmo ser vista como uma marca da nossa população, bastante desconfiada dos preços baixos e benefícios imediatos.

De certa forma, um raciocínio semelhante também se aplica ao segundo ditado mais popular entre os brasileiros, o conhecido “a mentira tem perna curta” (64,3%). Isso porque a máxima, familiar para muitas pessoas e a favorita em Minas Gerais, Ceará e Rio Grande do Norte, chama atenção para o seguinte ponto: alguém pode até ser feito de bobo, mas mentiras e falcatruas não se sustentam por muito tempo, sendo desmascaradas logo, logo. Uma população desconfiada? Ao que indicam seus ditados favoritos, talvez.

Se pensadas como reflexos de características de quem as utiliza, outras duas expressões ditas no Brasil, em especial no Amazonas, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul e São Paulo, demonstram a importância dada à disposição e persistência por parte dos brasileiros.

Estamos falando de “a esperança é a última que morre” (61%) e “antes tarde do que nunca” (59,8%), ambas presentes no Top 5 dos respondentes e cujos significados contam com sentidos que se complementam: a primeira enfatizando o olhar positivo e otimista para as dificuldades, a segunda incentivando a tomada de ações (decisões importantes, soluções de problemas) independente do momento  — lições valiosas e que nunca saem de moda.

Os ditados que (quase) todo brasileiro aprendeu errado

Tão comuns quanto certos ditados são, na verdade, versões alternativas de frases conhecidas, que acabaram se popularizando de forma equivocada no país — algo que os próprios brasileiros conhecem bem.

À Preply, por exemplo, cerca de 59,1% dos respondentes admitiram utilizar “quem não tem cão, caça com gato” como sinônimo para “quem não tem o necessário, se vira como dá”, investindo nas ferramentas que possui. O que a semelhança sonora esconde é o fato de que, em sua origem, a versão correta do dito seria um pouquinho diferente.

Isso porque, embora boa parte das pessoas entrevistadas costumem reproduzi-la dessa maneira, a alternativa original recomenda que aqueles que não têm cão, na realidade, “cacem como gato”. Em outras palavras, agindo de maneira sorrateira, tal qual um felino atento aos perigos.

Uma confusão parecida ainda reaparece quando se menciona um dos ditados mais conhecidos entre as crianças, expressão que inclusive já se transformou em cantigas e parlendas nas escolas infantis: “batatinha quando nasce se esparrama pelo chão”, pelo menos no senso comum. É que, no original, diferentemente do usado por 59% dos interrogados, a mudança é sutil: a variação “se esparrama” vem do clássico “espalha a rama”, em referência às raízes do legume.

Filho de peixe, peixinho é: os ditados como herança cultural

Além das expressões favoritas dos entrevistados, algo que o estudo da Preply confirmou é o fato de que, se os ditados anteriores permanecem firmes entre as gerações Y e Z, isso em grande parte se deve a certos costumes familiares, que aparecem nas conversas com os pais (67%), avós (48,3%), irmãos (18,6%) e demais parentes (41,5%).

Não por acaso, grande parte dos respondentes afirmaram ouvi-los com mais frequência dentro de casa, entre conselhos e puxões de orelha que mantêm vivas essas verdadeiras tradições culturais.

Outros círculos sociais externos, de todo modo, não ficam muito atrás dos familiares na preservação de certas expressões do senso comum. Afinal, para mais de 58% dos brasileiros, são os amigos os responsáveis por usarem tais ditados constantemente, ao lado dos colegas de trabalho (43,5%) e até mesmo professores (15,7%).

Só em seguida, de acordo com os entrevistados, viriam os meios de comunicação como a TV, rádio e internet (12,7%), o que evidencia o quanto a popularidade dos ditados em muito decorre do bom e velho boca a boca informal.

“Provérbios têm sido transmitidos ao longo das gerações porque se mostraram valiosos e sábios ao longo do tempo”, comenta Sylvia Johnson, líder de Metodologia da Preply. “Eles oferecem orientações práticas e lições que se aplicam à vida cotidiana, fornecendo insights sobre desafios e dilemas comuns, ajudando as pessoas a navegar em seu dia a dia.”