Farol do Maranhão

Racismo estrutural e ações de afirmação da mulher negra são tratados no “Toda Mulher”

 Participaram a advogada Caroline Caetano, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-MA; e a quilombola Keysse Dayane de Sousa, candomblecista, bacharel em Direito e especialista em Direitos Humanos.

O combate ao racismo estrutural, as ações de afirmação da mulher negra e os avanços na legislação foram tratados no programa “Toda Mulher” desta quarta-feira (5), na TV Assembleia. Participaram a advogada Caroline Caetano, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-MA e com atuação no Direito antidiscriminatório; e a quilombola Keysse Dayane de Sousa, candomblecista, bacharel em Direito e especialista em Direitos Humanos.

O programa foi aberto com diversos depoimentos de pessoas vítimas de racismo por causa do cabelo, da pele, da raça. A prática, hoje caracterizada como crime, vem em forma de comentários discriminatórios na escola, na universidade, no trabalho, ou seja, em fases diversas da vida.

As convidadas também relataram ter sido vítimas de racismo. “Esses comentários, em que pese não terem, num primeiro momento, me causado alguma angústia, constrangimento, me levaram, posteriormente, a reflexões: mas porque meu cabelo não é adequado?”, argumentou Caroline Caetano.

Keysse Dayane de Sousa contou que chegou a ser excluída de um local por ser negra e reforçou que o racismo é naturalizado no Brasil. “Na minha percepção, não tem como uma pessoa ser negra no Brasil e nunca ter passado pelo racismo. Antes mesmo dela se conhecer como pessoa, como ser humano, ela já passa pelo racismo”, observou, lembrando o exemplo de mães que são aconselhadas a massagear o nariz dos bebês com óleo para que fiquem afinados.

O mito de que o Brasil não é um país racista, segundo Caroline Caetano se deve a raízes históricas, como o fato de o país ter sido o último no mundo a abolir, formalmente, a escravidão, 135 anos atrás. “A negação da violação de direitos está na raiz da nossa história”, destacou. A advogada também tratou sobre a escravidão contemporânea, na qual a mulher negra trocou a ‘casa grande’ do período escravocrata pelas cozinhas da atualidade.

Segundo Caroline Caetano, o tempo que passou ainda não foi suficiente para a solução do problema. “É devolver a humanidade àqueles de quem ela foi retirada durante a escravidão. E 100 anos é pouco tempo para que se reformule toda uma política de criminalização, marginalização do racismo estrutural”, declarou.

Poder

Keysse Dayane de Sousa assinalou que as estatísticas mostram que a maioria das vítimas de violência no país são mulheres negras. Segundo ela, a solução está também em ter a mulher ocupando os espaços de decisão.

“A raiz do problema não está só em dar dignidade, mas garantir que elas estejam em espaços de poder, acima de tudo, tenham fala, no Legislativo, Executivo e Judiciário”, disse, comentando sobre o racismo estrutural impregnado na sociedade brasileira.

“O maior problema está na conjuntura dos espaços de poder”, enfatizou Keysse Dayane de Sousa, citando que no Brasil as decisões ainda são tomadas por uma maioria branca.

O programa ‘Toda Mulher’ tem apresentação da jornalista Márcia Carvalho e é exibido às quartas-feiras, sempre às 15h, na TV Assembleia (canal aberto digital 9.2; Maxx TV, canal 17; e Sky, canal 309).